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domingo, agosto 10, 2003

 
A Morte de Marinho


O mais estranho em torno da morte deste ilustre senhor é a comoção criada em cima disso. Lula, Leonel Brizola e até o jornal Hora do Povo(Ligado ao MR-8, grupo que foi guerrilheiro durante a ditadura militar e famoso por suas opiniões meio extremadas, a ponto de apoiar Saddam Husssein) estão emitindo lágrimas e loas de consideração à ele. A Academia Brasileira de Letras diz querer um nome de "projeção nacional" para ocupar a cadeira do Sr. Roberto, como se ele fosse um intelectual de primeira e não um exemplo de como a ABL se denegriu ao preferir aceitar pessoas de grande poder político e financeiro ao invés de grandes nomes das letras nacionais(Afinal, José Sarney e Paulo Coelho são acadêmicos, enquanto Gilberto Freyre e Carlos Drummond de Andrade não). Na boa, deve ser o medo de que o espiríto do Sr. Marinho venha puxar as perninhas. Por quê, a rigor, não existe muita coisa que justifique essa comoção toda.

Grupos gigantescos de mídia são o tipo de conglomerado empresarial que pode ser muito perigoso para as sociedades. São conglomerados poderosos demais: os exemplos de como o Grupo AOL Time-Warner deu ao fazer uma campanha gigantesca de divulgação por todas as empresas do grupo para promover filmes como a trilogia Harry Potter ou Matrix: Reloaded, de como a própria Globo fez para promover o Big Brother, o apoio explicíto de Rupert Murdock(Dono da News Corporation, que é proprietário da Fox, Sky e diversas empresas de mídia) para a Invasão ao Iraque(Criando um ambiente propício para a guerra) ou do fato de Silvio Berlusconi, o maior empresário de mídia da Itália conseguir ser o seu primeiro-ministro(Mesmo afogado em escândalos de corrupção) são exemplos da influência que esses grupos podem ter. No caso da América Latina, aonde conglomerados de mídia como a Globo, Televisa e o Grupo Cisneros são de longe os maiores grupos empresarais do continente, essa influência chega a níveis obscenos.

O Grupo Globo não foge desta tradição: a rede de televisões foi fundada com um financiamento ilegal do Grupo Time-Life e a empresa foi contra às Diretas Já e a favor da ditadura. Um exemplo de como essa influência pode ser ruim está na questão das TVs por assinatura, aonde existe um virtual monopólio da NET. Não há opção alguma para o telespectador, que muitas vezes é obrigado a simplesmente engolir as versões em espanhol dos canais estrangeiros. O mais interessante é que somente este ano é que a NET deu lucro! Até então, esse monopólio era sustentado com coisas como uma vigorosa participação do BNDES na empresa. Ou seja, um monopólio sustentado pelo dinheiro que deveria estar promovendo o desenvolvimento nacional e a geração de empregos. A Globo sempre manteve essa prática de dar uma mãozinha para governantes, recebendo em troca concessões e empréstimos camaradas. Não é a toa que o Sr. Roberto foi alvo de um documentário da BBC chamado Beyond Citizen Kane(Além de Cidadão Kane, em referência ao clássico personagem do filme de Orson Welles sobre um poderoso magnata da mídia)

A Globo não se destacou por gerar empregos ou por promover a cultura nacional. Não é o tipo de empresa que faz falta ao Brasil. Não faz sentido toda essa choradeira: chega a ser patético o jeito em que os jornais do patrão-morto estão promovendo isso tudo. Em especial considerando que um Milton Santos ou um Amílcar de Castro são relegados a um cantinho na página dos obituários.