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quinta-feira, junho 30, 2005

 
São Paulo, sexta-feira, 15 de abril de 2005


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RACISMO EM CAMPO

O racismo é, por qualquer ângulo que se analise, uma chaga a ser combatida. No plano ético, há poucos comportamentos mais perniciosos do que qualificar alguém em função de um estereótipo vazio, como a cor da pele ou a ascendência étnica, e, a partir daí, julgar o indivíduo, como se tudo o que ele possa fazer, pensar e sentir já estivesse predeterminado por esse único traço.
Daí não se segue que mereça aplausos a prisão do jogador argentino Leandro Desábato, do Quilmes, por ter usado termos injuriosos e de cunho racista contra o atacante são-paulino Edinaldo Batista Libânio, o Grafite, na partida da última quarta-feira pela Libertadores. Desábato obviamente cometeu um delito (injúria agravada por racismo), mas parece estar pagando sozinho pelas rivalidades de várias gerações de jogadores argentinos e brasileiros.
Salta aos olhos o zelo com que as autoridades estão cumprindo as determinações legais. Não há jogo de futebol em que jogadores não troquem insultos, freqüentemente de caráter preconceituoso. Nenhum que se saiba resultou em queixa-crime e prisão em flagrante. Ao aplicar a lei com tanta diligência contra um argentino, pode-se estar incorrendo no mesmo tipo de preconceito que a legislação visa a coibir.
De resto, esta Folha sempre se opôs à restrição da liberdade para acusados de crimes sem violência física. Espera-se agora que a Justiça estabeleça o quanto antes a fiança para que o jogador argentino seja solto. Grafite teria sido mais feliz se, em vez da queixa-crime, tivesse proposto uma ação cível em que pedisse indenização por dano moral, por exemplo.
O episódio tem, no entanto, o mérito de dar evidência internacional ao grave problema do racismo dentro e fora do futebol. Há algo de simbólico e de pedagógico na prisão de Desábato, mas fica também a desconfortável sensação de que ele foi transformado em bode expiatório.