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quarta-feira, julho 20, 2005

 
Revista Educação, Edição 99
Professor não é mal pago e isso não importa
Estudos mostram que não há relação significativa entre salário dos docentes
e performance dos alunos
Gustavo Ioschpe


Tenho duas notícias boas para o país e péssimas para os professores: os
professores brasileiros não são, em média, mal pagos; e isso não faz muita
diferença, porque não há evidência empírica que sugira que salários maiores
geram educação melhor. Não rasgue nem cuspa na página, por favor. Me dê
cinco minutos para uma rápida explicação. Sempre fiquei intrigado com essa
história de que salário de professor fosse baixo, porque é uma das carreiras
mais populares do país e seu número não pára de crescer. Excluindo-se o
masoquismo em massa, não há nenhuma razão para se imaginar que tantas
pessoas continuariam a entrar em carreira de salário discriminatório. Não
faz sentido.

Fui à cata de dados a respeito para meu último livro e confirmei essa
impressão. Primeiro, temos de definir os termos. Quando se diz "mal pago",
se quer dizer "pago injustamente mal". Em valores absolutos, quase toda a
humanidade acha que trabalha mais do que deveria e recebe menos do que
merece. Pra que a análise não seja totalmente subjetiva, precisamos comparar
horas trabalhadas e as variáveis pessoais do profissional, especialmente
idade e nível educacional.

Quando essa comparação é feita (os estudos mais completos que eu conheço são
de Emiliana Vegas e Xiaoyan Liang), nota-se que há bolsões de salários
baixos - especialmente nas áreas rurais e do Nordeste - mas, na média, não
há diferença entre os professores e não-professores. Quando se leva em conta
tempo de férias, estabilidade no emprego e plano de pensão, observa-se que
os professores têm salários maiores do que os não-professores com o mesmo
perfil educacional e etário. 11% a mais, pra ser exato, segundo Liang. O que
faz mais sentido, dados a popularidade da carreira de professor e seu
contínuo aumento no país. E não quero dizer aqui que os professores ganham o
que merecem: ganham menos do que deveriam, mas por viverem num país pobre
como o Brasil, não por serem professores.

Isso é bom pro Brasil porque somos um país pobre. Se fosse indispensável dar
salários altos pra se obter qualidade de educação, estaríamos ferrados. O
que é ruim é que professores, diretores, sindicatos, secretários e ministros
vêm martelando há tantos anos que o problema da educação brasileira é o
baixo salário dos professores que todos se convenceram. Fica todo mundo
choramingando que com esse salário não dá. O que é sempre uma boa forma de
se eximir do seu próprio fracasso e de suas próprias incompetências. A culpa
é, claro!, do FMI.