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terça-feira, novembro 28, 2006

 
Concentração causa elevação de fretes ferroviários

Poucas empresas contribuem para que as tarifas do setor se mantenham nos níveis do rodoviário. A concentração do setor ferroviário nacional nas mãos de poucas empresas tem contribuído para que os fretes do setor se mantenham próximos do rodoviário, segundo usuários e consultores. "Isso já era esperado inclusive pelo governo, que permitiu esse processo. Quem define o preço é o mercado" diz Paulo Fernando Fleury, diretor do Centro de Estudos em Logística (CEL/Coppead), do Rio de Janeiro.

Na semana passada, o governo federal anunciou que deve elaborar um estudo para apurar por que os preços dos fretes ferroviários estão tão próximos dos rodoviários. De acordo com levantamento do Coppead, entre 2000 e 2005 os preços praticados pelas concessionárias das ferrovias subiram 235%.

A reclamação teria sido levada ao governo federal pelo setor agrícola, em especial os produtores de soja, que sofreram com os baixos preços dos seus produtos no mercado internacional nos últimos meses.

No Paraná, maior produtor de grãos do Brasil e segundo maior de soja, a participação da ferrovia no transporte de produtos agrícolas ainda é de 30%, segundo levantamento da Federação da Agricultura do Paraná (Faep). O preço do frete e a necessidade de grandes volumes de cargas têm limitado a expansão, segundo Nilson Hanke Camargo, assessor técnico e econômico da entidade.

A Faep critica a tabela de preços praticada pela América Latina Logística (ALL), concessionária que atua no estado. "O que a ALL vem fazendo é sempre pegar como base o frete rodoviário da época e praticar um preço de 15% a 20% menor. Em alguns casos, esse valor com certeza poderia ser ainda menor, mas a empresa vem mantendo essa proporção. É uma forma de se aproveitar do monopólio do serviço", diz.

Para Fleury, da Coppead, o caso da compra da Brasil Ferrovias pela ALL, neste ano, é um exemplo desse processo de concentração. A ALL, que atuava até então no sul e parte de São Paulo, passou, com a aquisição, a operar também nos estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, considerados os celeiros agrícolas do centro-oeste do País. A empresa passou a deter, com a operação, a maior fatia da movimentação de grãos do País.

Segundo Camargo, da Faep, muitos produtores também não conseguem firmar contratos porque não têm escala. "Eles formam pools, mas mesmo assim as negociações são duras", afirma.

A ALL já anunciou que iniciou negociações para reajustar seus preços para o próximo ano, inclusive na área de abrangência da Brasil Ferrovias. A empresa, no entanto, já admite que as conversas serão mais difíceis, já que espera uma safra de soja menor. Hoje 70% dos contratos com o setor agrícola da empresa são no formato "take or pay" e de longo prazo. Procurada, a empresa afirmou ainda que o atual patamar de preços do frete leva em conta também a necessidade de investimentos na malha nos próximos anos. A empresa deve investir R$ 500 milhões por ano nos próximos cinco anos.

Gazeta Mercantil 27 de novembro de 2006.